O prelúdio
Como se pudesse amar-me duas vezes, após o gozo, reclinava sua cabeça sobre o meu peito ofegante, dizendo gostar de sentir meu coração exausto, esbofetear-lhe o rosto sem pena. Imaginava-o como um cafetão possuído de ciúmes ao tomar conhecimento das estripulias sexuais praticadas por sua amante vadia, em todos os becos e esquinas do bairro.
No calor vulgar de suas fêmeas palavras, eu me sentia plenamente macho e pomposo, desfrutando do triunfo e da soberba pré-destinada aos homens, desde o princípio dos tempos, pelos desígnios bíblicos de Deus.
Contudo, eu jamais poderia começar a descrever esta banal e degradante relação amorosa de maneira tão romântica e fugaz. Nada aqui é igual às incontáveis e desprezíveis telenovelas com as quais sua mamãezinha querida e você estão cotidianamente gordos e acostumados a assistir, em um irreversível estado de inércia mental.
Desculpem-me então rapazes e raparigas pelos termos ordinários e peculiaridades vagabundas a serem narradas aqui, mas é exatamente assim que é a vida: uma completa coleção de horas miseráveis e tediosas, capazes de provocar tamanho desgosto e repulsa que seria impossível não nos levar a morte.
E se você é só mais um daqueles canalhas que se escondem por trás de uma intelectual figura romântica, aviso logo que pare de ler cada linha demente exatamente aqui, pois o asco obsceno que ei de provocar, fará de sua cretinice parecer fimose de criança. Vou vomitar ipsi literis sobre seu rosto, qualquer promíscuo detalhe que, por ventura, jamais tivesse coragem de cometer, mas que, porém, sonhaste a cada tedioso encontro de teu ego com a masturbação. A mais fiel de tuas companheiras.
Revelarei o quão escroto é teu íntimo, como a mesma náusea e desprezo que sinto pela humanidade. O deixarei ruborizado, do mesmo modo que sua mãe te deixou ao pegar-lhe assistindo o teu primeiro filme pornô. Aquele mesmo em que o cãozinho fazia com a dama, o sexo que, na cama, tua esposa jamais te deixou fazer, mas que se deleita em suor ao pensar no vizinho negro.